Estudo mostra que cérebro foca na memória que parece ser mais importante e apaga a outra para que não haja interferência.
Uma lembrança específica pode nos fazer esquecer outra parecida - e
neurocientistas conseguiram observar este processo usando imagens
computadorizadas do cérebro.
Dentro do cérebro dos seres humanos eles localizaram as marcas únicas
de duas memórias visuais desencadeadas pela mesma palavra.
Em seguida, observaram como lembrar de uma das imagens repetidamente fez a outra memória desaparecer.
O estudo foi publicado na revista Nature Neuroscience.
Os resultados sugerem que nossos cérebros apagam ativamente memórias que podem nos distrair de uma tarefa específica.
"As pessoas estão acostumadas a pensar o esquecimento como algo
passivo", disse a principal autora do estudo, Maria Wimber, da
Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha.
"Nossa pesquisa mostra que as pessoas se esforçam mais do que percebem para moldar o que lembram de suas vidas."
Excluindo distrações
Wimber realizou o estudo com colegas do MRC Cognition and Brain Sciences Unit, em Cambridge.
Ela disse à BBC que as novas descobertas não mostram um sistema de
armazenamento de memória simples como "entra uma memória, sai uma
memória".
"Não significa que esquecemos algo todas as vezes que entra uma lembrança nova."
"O cérebro parece pensar que as coisas que usa com frequência são as
coisas realmente importantes para nós. Então tenta manter as coisas
simples. Para se certificar de que poderemos acessar essas lembranças
importantes facilmente, ele expulsa, tira do caminho as memórias que
estão competindo ou interferindo."
A ideia de que lembrar de algo frequentemente pode nos levar a esquecer
as memórias intimamente relacionadas a ela não é nova. Wimber afirma
que ela é conhecida desde a década de 1990.
Mas os cientistas nunca haviam conseguido confirmar que isso era
resultado de uma supressão ativa da memória, em vez de uma simples
deterioração passiva.
O que fez a descoberta possível foi a identificação de indicadores
confiáveis que as pessoas que participaram da pesquisa se lembravam de
uma determinada imagem, dentro de seu córtex visual.
A pesquisadora fez isso fazendo que elas fizessem uma série de tarefas
"chatas" antes dos testes com a memória começarem. Poderia ser, por
exemplo, olhar uma foto de Marilyn Monroe ou de Albert Einstein muitas
vezes.
A cada par de imagens foi associada um palavra sem relação com a imagem, como por exemplo "areia".
Ao pedir que os grupos lembrassem de apenas uma imagem associada à
palavra repetidas vezes, foi possível ver, por exemplo, as lembranças de
Marilyn ficarem mais fortes, enquanto as de Einstein desapareciam.
Apagar memórias
Wimber acredita que os resultados podem ser úteis em psicologia, onde apagar memórias específicas às vezes é exatamente o que os pacientes precisam.
"Esquecer é muitas vezes visto como uma coisa negativa, mas é claro que
pode ser extremamente útil quando se tenta superar uma memória negativa
do nosso passado", disse ela.
"Há oportunidades para que isso seja aplicado em áreas para realmente ajudar as pessoas."
Hugo Spiers, um professor de neurociência comportamental da
Universidade College London, disse à BBC que a pesquisa era animadora e
foi bem feita.
"Este é um exemplo de uma boa pesquisa de imagens do cérebro", disse ele.
"Os resultados vão além de simplesmente revelar que uma região do
cérebro está envolvido na memória: eles fornecem insights sobre os
mecanismos utilizados pelo cérebro para conseguir isso."
O trabalho também impressionou Eva Feredoes, que estuda mecanismos de
memória na Universidade de Reading. Ela disse que a descoberta pode ser
útil até para combater a perda de memória em situações de demência.
"Nós sabemos que as memórias competem com as outras em diferentes
estágios enquanto estão sendo lembradas e, quando são recuperadas, as
memórias perdedoras da competição são esquecidas", disse Feredoes.
"Resolver essa 'competição' complexa poderia pavimentar o caminho para
novas pesquisas sobre tratamentos em doenças que afetam a memória, como a
demência."
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